Esta é uma
história trágica sobre dois amigos: Catolé e Mambebim. Se você não suporta
final infeliz e mocinhas que se ferram, não leia, ou então leia e se chorar não
diga que não avisei.
Catolé e
Mambebim eram melhores amigos, apesar de serem completamente diferentes em
todos os aspectos. Catolé era pedreiro, metido a pegador, o típico sem
escrúpulos. Pegava todas, as solteiras desavisadas a quem enganava se dizendo
solteiro, as raparigas caçadoras de cascalho, as casadas, notoriamente as
mulheres dos amigos, pelo simples prazer de enchifrar a cabeça do amigo, mas o
fetiche de Catolé era mesmo as domesticas. Catolé não podia ser chamado de
patrão que já lhe subia pênis adentro um turbilhão de vontade. Aquele tipinho
que esconde a dele em casa e bota a mão nas dos outros. Porem, Catolé não se
prendia a mulher alguma. Tinha fama de briguento e estava sempre pronto pra um
confronto, barulhento tal qual uma lavadeira na beira do rio, não levava
desaforo pra casa. Se alguém lhe pisava os calos, Catolé rosnava como um cão
raivoso e pulava com o filho de uma garnisé, traiçoeiro, já puxava a faca e
fazia o rasgo no chão. Pra resumir, Catolé era temido e destemido. Mambebim era
camelô, tipinho sem vergonha, bajulador, e namorava sério. Tinha um jeito
passivo daqueles que não matava nem mosca. Dava-se bem com todo mundo, sempre
sorridente e brincalhão, mas fazia qualquer coisa pelo Catolé por quem nutria
uma paixão platônica. Os dois acreditavam que um completava o outro. Amizade de
infância sabe como é.
Tana era uma
moça bonita, sempre com aquelas roupas coladinhas no corpo, que marcavam muito
bem o bumbum. Boca carnuda, sempre pintada de um rosa leve. Deixava os homens
loucos. Era a namorada de Mambebim.
Certo dia, Catolé
mudou seus planos. Normalmente, ele ia para a rua arrumar confusão. Mas naquele
dia ele resolveu ir atrás de Kika, uma de suas peguetes, casada com um amigo
seu, para dar uma variada. Tancinha, sua mulher, já tinha um gosto meio ensosso,
precisava de uma dieta diferente pelo menos duas vezes por semana e sendo
mulher de um amigo era a comida perfeita. No meio do caminho, recebeu uma ligação
de Tancinha e precisou dar um jeito de atender as duas, já que ela estava muito
nervosa. Voltou pra casa meio contragosto, mas pensou com sua cafajestice
peculiar que Kika podia esperar.
Não muito
longe dali, Mambebim fechava e guardava sua barraquinha. Aliás, Mambebim nunca
armava a outra barraca, coisas do jeitinho passivo dele. Tinha planos para aquele
dia: pedir Tana em casamento. E assim Mambebim casou com Tana. É claro que
Catolé foi o padrinho de casamento.
Mambebim com
seu jeitinho arranjou logo uma barriga pra Tana e tudo parecia muito feliz e
perfeito, mesmo que ficasse a dúvida se o dono daquela barriga era ele mesmo.
Mas se fosse Catolé, toda traição seria perdoada.
Anos se
passaram. Catolé foi subindo na vida e se tornou um homem rico. Os tempos de
pedreiro ficaram para trás. Agora Catolé era conhecido na cidade. Mas o coquetel
de dinheiro e poder somatizaram o gosto de Catolé que já traçava suas
empregadas a vista de todos. Para ele sexo era uma questão de poder, de subserviencia.
Poder para ele e subserviencia para os outros. Catolé gostava mais e mais de
ser servido. Era um maníaco incorrigivel.
Mambebim que
tinha uma cabeça descerebrada gostava tanto de Catolé que era incapaz de supor
que se Catolé fazia com os outros, poderiam muito bem fazer com ele. Mambebim
estava cego e a paixão platônica só aumentava. Contam que uma vez Catolé por conta
de umas confusões que arrumou, ia ser preso, mas Mambebim, caninamente, se
apresentou à policia, se declarou culpado e foi preso no lugar de Catolé, que
sabendo disso usava o Mambebim para obter mais dinheiro e mais poder.
Ia tudo bem,
Catolé subia e levava Mambebim junto, mas sem jamais lhe dar muita coisa, já
que pensava na sua esperteza, que não podia promover Mambebim para não perder
seu escravo, Mas Mambebim não se importava com isso, o importante era a
satisfação de Catolé.
Mas um dia,
como tudo que não é conquistado com o coração, Catolé entra em desgraça. Tudo
seu império começa a ruir. De poderoso chefão passou a ser uma chacota para as
pessoas. Caçoavam dele aqui e ali, mas o escudeiro Mambebim estava ao seu lado.
Quando não era blindando, era dando apoio.
Embora
Mambebim soubesse que Catolé era um safado, aproveitador, enganador, usurpador
da consciência alheia, mantinha-se fiel como se tivesse feito aquele
compromisso aos pés do altar: na tristeza e na alegria, na dor, enfim, Mambebim
se orgulhava de ser fiel.
O que
Mambebim não sabia era que na hora do “pega pra capar”, Catolé iria tirar o
precioso dele da guilhotina e iria colocar o dele.
E assim foi.
Catolé se envolveu com o tráfico e contrabando, e para obter mais dinheiro ia
envolvendo todos na sua aventura. Assim foi com o Melequinha, a Kika, a
Tancinha, a Keka, o Fézim, o mundim, o Capinoso, o Gargamel e o Jurubeba, além
do Mambebim e da Tana, é claro. A
quadrilha estava formada. O bando de Catolé.
Tinha também o rabulim que dava cobertura à quadrilha.
Porém a
polícia que não é boba foi armando o cerco e a casa caiu pros vagabundos. Os
homens da lei botaram todo mundo pra dançar. Mão na parede!!! olha pra frente,
meliante!!! Catolé foi para trás das grades.
Foi um
escândalo para a sociedade. Catolé tão vistoso, tão temido e
poderoso, era agora, um prisioneiro. A cidade indignada resolveu expulsar
Catolé e sua turma.
E foi assim
o triste final do bando:
Mambebim
ficou sem barraquinha pra armar, arrependido e com uma duvida danada na testa,
afinal, Catolé tinha tara por mulheres casadas.
Kika passou
a ter um casinho com uma carcereira que lhe rende alguns privilégios na cadeia
e deu um chifre cor de rosa ao marido.
Tancinha
continuou a exibir bijuterias baratas e penduricalhos jurando para todos que é
rica.
Keka
arranjou um amante figurão que lhe pagou a fiança e sumiu do mapa.
Melequinha
que tem a cabeça maior que o resto do corpo foi embora com o rabo preso entre
as pernas, dizem que virou travesti e adotou o nome de Jamile Henderson.
Fézim
comprou um megafone e saiu berrando como um louco pela cidade.
Rabulim que
era famoso por ficar na porta da cadeia, um dia se descuidou, caiu pra dentro e
de lá nunca mais saiu. Dizem que gostou de um lendário presidiário.
Nunca mais
se ouviu falar de Mundim, Capinoso, Gargamel e Jurubeba.
E Catolé que
passou a perna em todo mundo, tinha umas folhinhas de milho escondidas debaixo
do colchão, pagou um bom advogado e saiu da cadeia. A última notícia que se tem
dele é que se candidatou a síndico de um prédio, mas teve apenas um voto; o
dele mesmo!