Tenho um gosto acentuado por pensar em palavras rebuscadas e
fazer, mentalmente, um conceito delas. É um exercício mental que me mantem eletrizado.
Aliás, acho que quando nasci fazia um temporal com muitos raios, porque minha
energia mental explode, faísca, gera palavras, modéstia à parte!
A palavra que pensei agora foi Caudilho. Ainda não tenho título
para este texto. É outra brincadeira que faço; escrever e depois procurar um título.
O caudilhismo é um fenômeno cultural que primeiro surgiu
durante o início do século XIX na América do Sul revolucionária, como uma forma
de líder de milícia com personalidade carismática e um programa suficientemente
populista de reformas genéricas a fim de auferir larga adesão, ao menos no
início, das pessoas comuns, simplórias e incultas.
Os Caudilhos tipicamente atribuíam a tarefa de conquistar
poder sobre a sociedade e posicionar-se como líderes. Eram capazes de comandar
grande número de pessoas e de prender a atenção de vastas multidões
entusiasmadas.
Hoje os caudilhos estão por toda parte e são de todos os
tamanhos. Exibem atitudes populistas e principalmente
mentem muito, além de serem excessivamente contraditórios, embora o populismo
não deixe que as pessoas percebam suas técnicas, velhas, porem eficientes.
Vendo uma reportagem de uma emissora em espanhol, percebo de
forma clara, a contradição entre o discurso do caudilho Hugo Chávez condenando a
riqueza. A TV mostra como vivem seus familiares. Sua filha Rosinés, empunhando
um leque de dólares americanos, sendo que Chávez decretou o controle de dólares
nas mãos de particulares.
Os comensais do banquete onde Chávez veste um terno com abotoaduras
e relógio de grife francês. O traje e adornos usados por Chávez pode alcançar
30 mil dólares.
Não se trata de condenar a riqueza, pois até gosto muito de
uns luxos, mas expor a contradição de Chávez que luta em defesa dos pobres da
Venezuela.
Estas matérias só são acessíveis na Venezuela através da
internet. Como a maioria não tem acesso, ouve apenas o discurso mentiroso do
caudilho.
As críticas e análises só aparecem em jornais e televisões a
cabo que não são acessíveis à grande massa. Com isso Chávez diz que não censura
aqueles veículos que o criticam. Ora, como a maioria é analfabeta e
despossuída, sobra apenas a TV estatal chavista que promove há mais de uma
década a lavagem cerebral diária da grande massa.
Chávez é um mentiroso. E toda vez que se sente ameaçado,
dispara sua metralhadora sobre os americanos, incitando o ódio e fechando a
cortina que o protege e o mantém no poder.
Mas aterrissando aqui na nossa terra brasilis, há quem diga
que o nosso maior caudilho foi o Lula. Temos da sua vida muito de seu próprio
testemunho. Do testemunho alheio se tem
noticias do filho que se tornou um empresário bem sucedido, e da filha muito pouco, além do
fato de viver nos Estados Unidos . Dele próprio se percebe os ternos italianos
e da mulher luxos palacianos além de ter
dupla cidadania. Vidinha bem diferente da maioria dos mortais brasileiros.
Mas aterrissando ainda mais, chegamos a Brasília com todas
as fantasmagorias que povoavam a imaginação medieval e que ainda perduram por aqui, temos os nossos governantes com
seus discursos caudilhistas .
Aterrissando de vez, chegamos bem longe de Chávez, o grande
caudilho, e encontramos um pequeno caudilho, o Zé do povo, no Varjão.
As questões subjacentes são: por que Zé do povo merece o
título? Por que algumas pessoas
permaneceram fiéis às suas loucuras? Por que e como os mistificadores têm
sucesso em suas mentiras?
Em alguns casos as mentiras de Zé do Povo são aceitas porque
são úteis.
Noutras vezes as pessoas acreditam em Zé do Povo porque suas
mentiras dão um sentido às suas vidas, como o hebreu que vai com ele em busca
do reino do Preste João na esperança de encontrar as tribos perdidas de Israel.
Nesse caso a impossibilidade do resultado não é importante, a busca se torna o
suporte da esperança.
Há, ainda, outro tipo de engano que da mesma maneira faz
seguidores. As pessoas têm suas crenças e buscam qualquer coisa que as torne
verdadeiras. Não é que creiam em algo porque encontraram evidências de verdade,
mas acreditam nas evidências porque estão de acordo com suas conveniencias. Assim,
não importa se os argumentos apresentados por Zé do Povo tenham procedencia ou
não, a sua argumentação confirma a história e, assim, o desejo de que sejam
verdadeiros supera a importancia material da farsa.
Isso faz com que se ouça
até o fim o mentiroso e adquira se não amizade, ao menos simpatia pelo infeliz.
Afirmo que Zé do Povo tem consciência de que é falso, mas de
maneira alguma é maldoso, ainda que tema o mal que pode derivar de seus erros.
Quero esclarecer que de forma alguma pretendo extrair conclusões morais desse
texto, o que seria uma terrível grosseria com o Zé do Povo.
Apenas concluo que o fenômeno da comunicação
é muitíssimo complexo, que nem sempre é fácil filtrar a realidade e muitos
sequer desejam isso, e que, ao ligar a TV, temos uma infinidade de Zé do povo à
nossa espera para nos enganar.